Quase 40 milhões de brasileiros são trabalhadores informais; economistas apontam caminhos para se preparar para o futuro
29/07/2025
(Foto: Reprodução) Quase 40 milhões de brasileiros são trabalhadores informais
Reprodução/TV Globo
Nos últimos meses, o IBGE tem registrado uma taxa de desemprego muito próxima da menor que o Brasil já teve. Mas é preciso considerar que quase 40 milhões de trabalhadores estão hoje na informalidade. E nem todos estão se preparando pro futuro.
Não repare na bagunça. É de organizar o caos que vive toda diarista. E do que precisa ser feito, nascem as oportunidades de quem se apresenta como um...
“Faz tudo no meu cartão. Uma cliente minha que deu essa ideia", diz Naldo Galego, autônomo.
Bem informal. Assim como esses dois trabalhadores. A Simone arruma, varre, cozinha, lava louça e roupa... Só não peça para assinar a carteira de trabalho dela.
“Não vale a pena. Primeiro, você não tem liberdade quando trabalha mensalista. Segundo, o nome já diz: empregada doméstica. Então você é do lar, você é doméstica, você é pertencente a alguém. Eu me sirvo. Se eu quero trabalhar, eu vou trabalhar. Se não quero trabalhar, não vou trabalhar", afirma Simone Elaine de Campos, diarista.
O país tem quase 40 milhões de trabalhadores sem carteira assinada. A taxa de informalidade vem caindo. Segundo o IBGE, agora está abaixo de 38%. Mas a foto é outra dentro das casas das famílias brasileiras. É onde trabalham quase 6 milhões de empregados domésticos. Três em cada quatro sem carteira assinada.
Na avaliação do professor titular da Fundação Getulio Vargas, André Portela, seja formal ou informal, o trabalhador precisa ser protegido:
“A gente tem que pensar a possibilidade de ter proteção social não baseada nas velhas caixinhas, ou mesmo em ocupações, mas baseada no trabalhador. Este trabalhador tem que ser protegido, esta trabalhadora tem que ser protegida. Não porque ela está em uma caixinha, em uma ocupação, que ela está protegida. Tem que estar protegida porque ela é uma trabalhadora, independente de onde esteja.”
Quase 40 milhões de brasileiros são trabalhadores informais
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O Naldo trocou a estabilidade do emprego no shopping por... um monte de coisa importante para ele.
Repórter: Naldo, é de uma casa para outra, para bar, para restaurante, para shopping... não para?
“Não para. 24 horas. Já fiz 8 horas aqui na casa de uma cliente do bairro, e daqui a pouco só tomo banho e já vou atender outra cliente — vai ser um jantar para 40 pessoas. E a minha rotina é assim. Todo dia. Hoje eu consigo ganhar tipo 5 ou 6 mil sem se matar. Sem trabalhar tanto igual eu trabalhava antes, né?”
E sente falta de um trabalho mais estável, formal?
“Não, sinto não.”
“O que se observa é que muitos profissionais preferem não ter um vínculo formal para exatamente poder ter flexibilidade. Então fica difícil a gente achar que com política pública vai conseguir lidar com isso, porque não necessariamente é um anseio dessas pessoas", pontua Zeina Latif, consultora econômica.
Informais podem estar tão ocupados com o trabalho que às vezes se esquecem de plantar o próprio futuro.
“Eu não penso nisso ainda não, né? Cheguei nos 50, para mim agora que a vida está começando, né? Porque antigamente, quando eu tinha 30 anos, eu não pensava igual eu penso hoje, né? Penso mais em viver, trabalhar e ter um futuro melhor, né? Guardar, poupar, né?”
A Simone diz que por enquanto não sobra nada.
“Hoje eu quero viver. Pronto. A gente tem que viver. Ah, o futuro a Deus pertence.”
Um conceito de finanças que todo brasileiro tem que conhecer é juros. Um jeito de definir é o valor do dinheiro no tempo. Antecipar planos, tem um custo. Mas, para quem poupa, o relógio corre a favor.
“O juros é como se fosse um trabalhador seu. Ele pode ser seu funcionário ou ele pode ser seu chefe — você que vai escolher. Então, no caso do seu trabalhador, do seu funcionário, você colocou o dinheiro lá e ele está como se fosse martelando. Então, todo dia útil, o dinheiro está trabalhando e está fazendo essa bolinha crescer e produzindo mais dinheiro. Quando você faz dívida, ele é seu chefe, porque ele fica cobrando você trabalhar para você pagar para ele", destaca Michael Viriato, estrategista de investimentos.
Quase 40 milhões de brasileiros são trabalhadores informais
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Existe uma estratégia financeira para o futuro da Simone. Ela tem 52 anos. Já contribuiu durante 10 anos para o INSS. Se contribuir por mais cinco anos, vai ter direito a aposentadoria por idade quando chegar aos 62 anos. Agora, se ela ainda guardar o dinheiro que vai deixar de gastar com a faculdade da filha no ano que vem — R$ 550 por mês — com uma aplicação conservadora, vai ter uma renda complementar de R$ 800.
Seria uma recompensa justa depois de tanto trabalho... Aquela jornada da Simone terminou só na noite seguinte, quando ela terminou de limpar a casa de uma outra cliente.
“Eu quero diminuir o ritmo. Ir para a área também da diária, mas ao invés de eu estar exercendo, eu quero estar por trás, captando clientes para uma outra diarista estar trabalhando. Uma microempresa de serviços domésticos".
E já é noite também quando o Naldo chega na própria casa, e apesar de às vezes cansas de fazer tudo, ele não troca a vida dele por quase nada.
“Não troco por nada. Só por Nordeste mesmo, para ir para o Nordeste. Consegui plantar uns pés de laranja lá, tem várias frutas, e a vida... o futuro Deus guarda, né? Até lá, estou guardando uns trocadinhos para ver o que a gente faz no futuro, né?”
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